Críticas de Filmes

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quinta-feira, 31 de março de 2016

Crítica: Conspiração e Poder (2016) ****

Direção: James Vanderbilt
Elenco: Cate Blanchett, Robert Redford, Topher Grace, Dennis Quaid, Bruce Greenwood, Stacy Keach, Dermot Mulroney

Sinopse: A produtora da CBS Mary Papes (Cate Blanchett) suspeita que o presidente George W. Bush usou a influência de seu sobrenome para não combater na Guerra do Vietnã. Com a ajuda de uma fonte, ela consegue os documentos necessários para a comprovação da denúncia e leva a história ao ar no programa 60 Minutes, apresentado pelo lendário Dan Rather (Robert Redford). Ao invés de abalar a campanha de reeleição de Bush, no entanto, o que se vê após a exibição é um processo de descrédito das informações que coloca em xeque todo o trabalho da equipe de reportagem.

Meu Comentário: Conspiração e Poder é um grande filme. Um dos melhores retratos cinematográficos já realizados sobre os bastidores do jornalismo investigativo. Tão bom quanto Spotlight, o atual vencedor do Oscar de melhor filme. E mesmo com ambos sendo contemporâneos (foram lançados nos Estados Unidos visando a temporada de prêmios 2015/2016), e baseados em histórias reais, considero difícil apontar qual é o melhor e mais eficiente. Talvez o mundo tenha prestado mais atenção em Spotlight pela essência de seu conteúdo (o abuso de crianças causados por padres católicos) em detrimento ao conteúdo político de Conspiração e Poder, que visivelmente interessa a poucos, ainda mais se tratando de um caso tão especifico da política americana.


O filme é o primeiro trabalho de James Vanderbilt como diretor (ele também é o responsável pelo roteiro), e posso afirmar que sua direção é muito eficiente. Lembro que Vanderbilt tem uma interessante carreira como roteirista, tendo escrito obras como Zodíaco (2007), Violação de Conduta (2003) e os dois últimos filmes da franquia O Espetacular Homem-Aranha.

Conspiração e Poder possui um ótimo ritmo, uma atmosfera envolvente e o roteiro é muito bem desenvolvido, conseguindo “apresentar” e “examinar” seus personagens com grande eficácia, com destaque para mais uma magnifica atuação de Cate Blanchett. Assim como Robert Redford, que está espetacular no papel de Dan Rather, lendário apresentador do canal CBS e do programa 60 minutes. Sinceramente, acharia muito merecido uma indicação de Redford as Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante, mesmo considerando a lista final muito qualificada.


Outro grande mérito da obra é a sua forma de levanta questionamentos em relação ao jornalismo e a função do jornalista. É pautado durante todo o roteiro questões relativas ao direito dos jornalistas, sua obrigação de ser questionador e a constante tentativa de sempre se buscar a verdade. E atrelado a isso, questiona a subjetividade dos envolvidos. O filme demonstra que uma sucessão de “distrações”, movidas por uma certa tendenciosidade da personagem Mary Papes, podem se tornar uma grande “desastre” jornalístico, por mais que a função do jornalista seja questionar. Além disso, o filme apresenta o conflito entre a função do jornalista e os interesses da empresa. É nesse momento que entre em cena o embate do idealista Dan (Redford), sua produtora (Mary Papes), e os executivos da CBS, que claro, evitam um confronto com a Casa Branca, e isso é nítido logo no primeiro ato do filme, quando o programa 60 minutes apresenta uma matéria contra o governo. E gosto particularmente do título original do filme que é Truth (verdade), se aproximando muito mais do âmago da obra do que o seu título em português.


Conspiração e Poder é um brilhante exemplo de uma obra não compreendida pelo público e pela crítica, fato perceptível pela fraca recepção da crítica especializada americana, que comprovadamente interferiu no sucesso da obra, já que o filme foi completamente esquecido na temporada de prêmios. Seriam as críticas tendenciosas? Ainda assim, afirmo que Conspiração e Poder foi um dos melhores filmes que vi nos últimos meses. Um filme poderoso, com personagens igualmente poderosos e repletos de complexidades. E onde a “verdade”, a palavra mais importante do jornalismo idealístico, é examinada, questionada e apresentada. E cabe a cada um de nós, espectadores desse significativo momento do jornalismo mundial, sermos júri, juiz e darmos nossa sentença: culpados ou inocentes? 

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