Críticas de Filmes

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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Crítica do Filme: Mãe! (2017) (Sem Spoiler**) (Com Spoiler***)

Direção: Darren Aronofsky
Elenco: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris e Michelle Pfeiffer

Sinopse: Um casal vive em um imenso casarão no campo. Enquanto a jovem esposa (Jennifer Lawrence) passa os dias restaurando o lugar, afetado por um incêndio no passado, o marido (Javier Bardem) tenta desesperadamente recuperar a inspiração para voltar a escrever os poemas que o tornaram famoso. Os dias pacíficos se transformam com a chegada de uma série de visitantes que se impõem à rotina do casal e escondem suas verdadeiras intenções.

Minha Crítica: Como posso analisar de forma justa o filme Mãe!, nova obra do diretor Darren Aronofsky? Bem, para ser justo, verdadeiramente justo, vou analisar o filme de duas formas. Mas antes uma explicação! Possuo um rito em relação as obras cinematográficas: não vejo o trailer e nem leio nada sobre o filme que vou assistir. Dessa forma, evito ser contaminado por críticas ou comentários. E, em razão da quantidade de filmes que assisto, e já assisti(aproximadamente 11 mil, todos catalogados), não corro o risco de “desvendar” a obra somente após ver o trailer. 

Primeira analise. Filme no Cinema. Cotação **(irregular)
Fui assistir a Mãe!,  já sabendo que era uma obra interpretativa e repleta de simbologias. Essa era a minha única “poluição informacional” em relação filme. E apesar de evitar ao máximo o contato com textos e críticas, as redes sociais não me deixaram livre dessa afirmação. Bem, o filme é intenso, a mise-en-scène “salto aos olhos” e o ritmo da obra, alucinante. Mas nem tudo são flores. Apesar das atuações vibrantes de Javier Bardem, Ed Harris (que sou fã), Michelle Pfeiffer (em um dos melhores papeis de sua carreira) e Jennifer Lawrence (em uma grande e premiável atuação), o filme se perde dentro de seus enigmas. E, com isso, afasta o público. 

Pelo trailer, o filme se vende como um poderoso “terror psicológico”. A medida que o filme vai se desenvolvendo, e o suspense aumentando, tanto no primeiro quanto no segundo ato, o espectador fica apreensivo e participa junto. Torce e tenta entender o que acontece na tela. Achando, coitado, que tudo será explicado. Mas não. Não dessa vez. Apesar de uma rica filmografia, Aronofsky não fez um filme para o público. Ele construiu uma obra egocêntrica e egoísta. Pretensiosa. Um tour de force para a cabeça de qualquer espectador. Uma narrativa surreal, repleta de reflexões existencialistas, psicológicas e filosóficas. Um verdadeiro pesadelo delirante, tanto para Jennifer Lawrence, personagem central do filme, quanto para o espectador.

Entenda uma coisa! Uma obra cinematográfica deve dialogar com seu espectador. Tem que haver uma troca. E Mãe! não está nem um pouco preocupado com essa relação. E mesmo em uma ficção, onde tudo é possível, se o diretor/obra “viaja” demais dentro de seus próprios devaneios, isso afasta o espectador. E, com isso, Mãe! falha. Você consegue acompanhar/analisar o filme até determinado momento, quando, de repente,  o filme abandona toda lógica e se torna uma ‘farra” visual ilógica, alegórica e  incompreensível. Um caminho em que você pode deixar de acompanhar o que está vendo, para brincar de adivinhação com o que está por vir.


Saí do cinema tentando entender o que o filme queria dizer. Qual mensagem o diretor gostaria de passar? Qual a razão de abandonar uma narrativa em prol do egocentrismo? Viajando pela obra, conclui, apesar de vários “fios soltos”, que o filme falava sobre o próprio diretor. A criação. Javier Bardem era o auto ego de Aronofsky; Jennifer Lawrence a inspiração; e o coração de vidro/casa, o filme. A obra final (mas ainda em construção). Nessa minha analise, todos querem tocar, se apropriar, dar sua própria interpretação. Julgar. E, o personagem de Bardem, quer isso exatamente isso. Ser bajulado. Amado. Idolatrado. Apesar do incomodo, e dos problemas, recorrentes de ver sua obra ser invadida e resignificada. 

(SPOILER)Segunda analise. Pós-Filme. Cotação *** (Bom)
Outra característica de meu rito cinematográfico: só leio sobre uma obra após escrever minha crítica. Foi dessa forma que descobri que o filme abordava a história humana através do contexto bíblico. Falava de Deus, da criação, de Adão, Eva, Caim, Abel, Guerras, do Planeta Terra, de Jesus e do homem. Depois disso, "BOOM". Claro, exatamente. 

E, com isso, o filme se resignificou mais uma vez. Ganhou outro sentido. Melhorou bastante. O roteiro: genial. As atuações continuam sendo maravilhosas. O tour de Force...compreensível. Mas te pergunto. O que será do cinema se todo filme só tiver sentido após o diretor explicar sobre o que a obra fala? Isso é justo com o espectador? Minha resposta é não. Não há como um espectador, mesmo o mais experiente cinéfilo, como é o meu caso, interpretar toda essa analogia bíblica na obra. Vamos ser sinceros, a obra não tem sentido algum. Agora, com essa explicação do diretor, tudo ganha mais sentido (apesar de continuar existindo alguns fios soltos).


O DIRETOR
Darren Aronofsky não é um dos meus diretores prediletos. E, entre suas obras, a única que me “salta os olhos” é Cisne Negro (apesar de considerá-la uma clara releitura do clássico “Os Sapatinhos Vermelhos”, de 1948). “Réquiem para um Sonho” é um bom filme, apesar de gostar muito mais das atuações  de Ellen Burstyn e Jennifer Connely do que da obra em si. “O Lutador” também é bom, e apresenta uma atuação redentora de Mickey Rourke, e talvez seja o trabalho mais “pé no chão” do diretor. “Fonte da Vida” é outra interessante obra alegórica. Já Noé é irregular e mal idealizado. Sendo assim, apesar desse status de ‘gênio”, percebe-se, com essa releitura, que as obras do diretor estão longe de ser uma unanimidade. Na realidade, sua carreira é irregular. Com altos e baixos. Mas marcada por uma ousadia na construção da linguagem cinematográfica. Isto, ninguém pode negar.

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